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Contra uma abolição que nos abole!

17 de mai. de 2023

Por Tássio Silva e Jade Andrade

Quando uma pessoa com fome furta, quem furtou quem?

- Preta Ferreira


O país, o estado e a cidade têm registrado sucessivos casos de pessoas sendo violentadas em grandes redes de supermercado por (tentativa de/ou) furtar alimentos. Alimento, direito humano, constitucional, essencial para a integridade mental, pessoal e física. Integridade física reduzida a um pacote de leite em pó, liberdade reduzida a um potinho de margarina, vida reduzida a um quilo de carne. Tudo isso naturalizado e autorizado, por se tratarem de pessoas negras. A carne mais barata do mercado.

 

A partir do questionamento de Preta Ferreira, refletiremos sobre insegurança alimentar, racismo e necessidade urgente de construção de um presente e futuro antirracistas. Onde as pessoas não morram de fome, mas que brilhem!


Em 2020, véspera do Dia da Consciência Negra, João Alberto Silveira Freitas foi morto em uma unidade do Carrefour, em Porto Alegre. Apesar da grande repercussão, de indiciamentos, condenações e indenizações de reparação de danos determinados pelos sistema de justiça, a rede Carrefour segue reincidente em suas práticas.

 

Em Salvador, recentemente, no bairro de São Cristóvão, um casal identificado nos sites de notícias como Jeremias e Jamile, sem sobrenomes, foi agredido e exposto no supermercado Big Bom Preço (Carrefour) por supostamente furtar pacotes de leite em pó para a filha. Ainda que pessoas brancas e ricas sejam absolvidas por crimes com maior potencial ofensivo.

 

As inúmeras condenações - à fome, à agressão, à miséria, ao encarceramento, à morte - têm cor!


O mesmo fenômeno que concentra a miséria em determinada cor e territórios, naturaliza a perversidade diante delas e fundamenta a ausência de políticas de dignidade e vida, essas, sim, roubadas, desde a invasão do Brasil. Passando pela falsa abolição, em 13 de maio, a violências e sequelas coloniais e atuais. Afinal, é possível falar em libertação sem reparação? É possível dizer que existe reparação sem justiça?

 

A agenda antirracista é inegociável. Reivindicação dos nossos ancestrais e, com todos os acúmulos possíveis, dos nossos contemporâneos. Essa pauta é nossa! Em um país com dívidas históricas com sua população negra, toda política de reforma agrária, reforma urbana e redistribuição de renda são políticas antirracistas!


Lutar por políticas de reparação do Estado - contra o maior crime contra a humanidade - e a responsabilização de grandes empresas como o Carrefour, são pontos indispensáveis para a materialização da justiça no aqui e agora.                             

 

Em diário de um detento, Racionais MCs proclamam: “minha vida não tem tanto valor. Quanto seu celular, seu computador”. Em um contexto racista e capitalista, a propriedade vale mais que a vida. Se a justiça já determinou que o furto da fome não deve ser considerado crime, por que as pessoas que o cometem são sentenciadas à morte?


Artigo publicado originalmente no site www.bahianoticias.com.br

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